Bem... vamos começar do começo!
Hoje, quando escrevo esta crônica, estou com 24 anos, não quero entrar em detalhes de minha formação, e muitos aspectos relacionados a isso. Estudei em escola publica, fui bolsista integral numa instituição de ensino particular, solteira, filha mais nova, tenho uma irmã e pais ‘’casados’’ e ''caretas''[para não dizer o quanto são modernos por demais]...
O foco desta crônica é um lado peculiar de minha vida, peculiar e engraçado, chega a ser uma anedota! Falo de minha vida amorosa. Seria mais correto dizer ‘’desamorosa’’... mas tudo bem...
Quase entramos na adolescência, principalmente nos anos 90... a efervescência de mudanças, nos campos politico-sociais, ecológicos, culturais... bem, nesta fase de transição social, e também de transição pessoal, o que não faltavam eram expectativas... oh! Muitas! Sobre tudo!
Naquela época o ato de beijar ainda era visto como restrito a adultos, e adolescentes que o fizessem... aii...
Com 13 anos, conheci um rapaz, terei que dar um codinome para não fazer exposição da pessoa... chama-lo-ei X1. Bem, X1 entrou na turma, vindo de outra cidade [me perseguem esses forasteiros...], aluno novo, todo tímido e retraído... eu sempre fui a nerd da sala, quase nunca olhava para ninguém... de repente, bOOM! Algo aconteceu! Meu coração disparou quando vi aquele branquelo desengonçado sentando no fundão. Nunca havia me sentido daquele jeito, não havia estudado sobre aquilo, na verdade, a arte de estudar foi bem melhor aprimorada depois, então, era leiga em quase tudo sobre relacionamentos, e meninos.
Pela inexperiência total, devo ter escancarado que o meninote mexera comigo, pois logo ele o percebeu. E também a sala, a diretora, o colégio, minha família. Oh! Isso era uma tragédia! 13 anos apaixonada! Inadmissível para meu pai, que já era escaldado pelas peripécias de minha irmã que aprontava bastante.
O moço tentou levar-me ao cinema, na época só tínhamos um na cidade próxima... era o evento ir ao cinema! Estava louca para aceitar mas só poderia se meu consentisse, o que ele não fez, e ainda esculachou minha primeira paixonite.
Depois dessa, complicado o rapaz querer algo comigo, mas ainda tentamos um namorico inocente de ‘’pegar nas mãos’’ – acredite, era só isso, ah! Jogávamos vídeo game, ‘’namorávamos’’ jogando Mortal Kombat e Street Fight no Nitendo ainda! Hehehehe Aqueles cartuchos que volta e meia a gente assoprava para pegar! Hehehe
Estava feliz com esse ‘’relacionamento’’, a gente se via na escola, no bairro, se falava por telefone escondido... hehe – desde esta época tinha um tabu e desaceitação com minha imagem, sempre acima do peso, não favorecida no fenótipo... era apenas boa aluna, mas nada, e ele, X1, havia notado isso! Sentia-me feliz, quase realizada [?? Com 13 anos??? Na onde isso??!!] hehehe
Até que, X1 começou a faltar as aulas... eu ligava no numero que nos falávamos para saber porque tantas faltas, se estava doente... mas ninguém atendia. Resolvi arriscar, juntei umas amiguinhas da mesma idade, e fomos a casa dele, na verdade da irmã dele, ele morava com ela. Bati palmas, esperei ser atendida, educadamente perguntei sobre ele.
Lembro que não senti as pernas quando ela me disse que ele havia ido embora para cidade natal e que NÃO MAIS VOLTARIA... agradeci e me despedi. Não lembro como andei, mas sei que já estava chorando quando virei as costas. Ele fora embora sem nem se despedir!
Passei muitos meses quase que de luto. Não queria sair de casa, chorava feito uma idiota, emagreci vários quilos...
Mas tinha que prosseguir... mais um ano letivo à frente. Fui para aquela escola cabisbaixa e querendo correr, um alivio foi encontrar X2, um amigo que fizera no ano anterior.
X2, ai começa outra historia...
X2 era do tipo bonitão [eu achava!!], do tipo que pegava geral, o conquistador; envolver com ele era saber que iria sofrer... lá fui eu em outra presepada!
X2 era bem diferente de X1, em tudo, na popularidade, no caráter e personalidade, era mais despreocupado e gostava de curtir...
Começamos um ‘’rolinho’’, também na escola, ele frequentava minha casa como amigo pois meu pai era um saco! [só queria me proteger!] entre nós 2, dizíamos ser ‘’namorados’’, mas juro que nada fazíamos de ‘’namorar’’... isso me leva até a perguntar: no que consiste o namoro? O que é namorar, de fato? – Creio que dos anos 90 para cá tenha se ‘’reconceituado’’ muito. Algo a se pensar talvez...
Era a mesma sequência, escola, recreio, saída da escola, educação física, vídeo game... e depois igreja. Passei a frequentar uma igreja evangélica a partir do convite dele... no fundo havia esperança de ter algo com ele sim... mas nada houve.
E, no contexto deste período da igreja, meu firmamento, a fé... muita coisa em minha vida mudou... as questões internas não... talvez apenas pioraram... mas acreditei que um dia X2 seria ‘’meu preparado’’ [assim que falávamos dos rapazes com quem deveríamos namorar-noivar-casar]. Acreditei e fiquei nisso por mais de 3 anos. Até vê-lo casar. É, eu o vi casar. Questionava muito, pois eu tive fé... onde estava o erro? Onde tinha pecado? Porque?
Neste intermeio, um rapaz que chamarei W1, filho de pastor, todo certinho, aproximou-se de mim, aceitei o ‘’namoro’’ para enciumar X2, o que, claro, não deu certo. W1 era uma pessoa muito boa, de outra cidade também, me ligava todos os dias, como bom crente, queria casar logo, era respeitador [namoros sem contato físico], teve coragem de pedir-me em namoro ao meu pai! Hehehe nesta época ainda se usava fazer isso! Hoje, no máximo, se avisa que está ‘’saindo’’ com alguém... A questão é que X2 casou, W1 então... bem, eu não gostava dele, e... canalhamente, terminei por telefone, sem nem saber dar um motivo a ele. W1, incrivelmente hoje reconheço, foi o único que gostou de mim de verdade... mas eu tinha uns 15 anos, não tinha muita sensatez [como se hoje tivesse alguma...]
Sei que W1 ficava vindo para minha cidade toda semana, eram pelo menos 900 kms de estradas em estado não muito bom... mas ele vinha, tentava falar comigo, tentava reconciliar, MAS EU NÃO QUERIA, NÃO GOSTAVA DELE!!!!!!!! Mudei-me de casa! Aleluia! Assim ele não sabia onde estava para me importunar.
Cito brevemente um rapaz que chamarei – 0 [zero negativo mesmo], bem, depois do casamento de X2, dar o fora em W1, tive algum envolvimento com este – 0. Deste, me limito a dizer que apaguei a experiência, de tão negativa, ridícula, inoportuna que me foi, também devo ter sido tudo isso a ele... mas tive idoneidade de assumir meus limites e capacidades, não enganei. Por isso, esta citação é breve e encerro o assunto aqui, colocando como fato inexistente, peso morto e enterrado.
Agora vamos a outra fase, ginásio! Oh! Era hilário esse período, cheio de encontros e desencontros com expectativas, não pessoas. Nesta época, houve uma grande turbulência familiar e econômica, mudei-me de casa 8 vezes em 1 ano... foi um período difícil, mas de aprendizado. Minha irmã casou-se, graduou-se e se concursou, eu fiquei só... os amigos do colegial seguiram seus rumos, caminhos diferentes, alguns nunca mais soube... outros até hoje temos um contato eventual.
No ginásio fiz amizades sólidas que duram até então e creio que durarão para a vida apesar das diferenças.
Mais uma vez, debrucei-me sobre os livros, sobre os estudos... fiz cursinho pré-vestibular, tinha rotina caseira de estudos supervisionada pelo meu pai de pelo menos 3 horas diárias... e passei no vestibular da UFMT para o curso bacharelado em química e consegui uma bolsa do governo também, pro-uni integral para enfermagem. Optei pela enfermagem pois me sentia incapaz de fazer química, essa é a grande verdade, e também uma grande tolice que fiz...
Iniciei a graduação, sem saber direito o que queria... na pressão de ser bolsista e não poder faltar nem baixar notas, nem reprovar e tals... e a tudo isso cumpri.
Meu lugar favorito era a biblioteca, onde ficava horas antes das aulas começarem... conhecia quase todo o acervo e a localização dos livros, quase não precisava dos bibliotecários e pensava seriamente em me candidatar a trabalhar lá... hehehe, mas não o fiz... não foi oportuno. Num desses momentos, folheei um livro de medicina... e BOOM! Pirei o cabeção e queria ser médica, E.R. e Grays Anatomy eram meus programas favoritos, além de C.S.I hehehe
Levei isso ao ponto de trancar a faculdade e tentar ir à Bolivia... não deu certo, tive que retornar e terminar enfermagem.
Neste contexto citado, na minha solidão conheci X3 pela internet. Uma loucura! E eu, uma idiota, louca, sem noção. 3 anos da minha vida gastei falando com ele, contas de telefone enormes, internet com recursos áudio-visuais e tudo... era algo aparentemente sério, ele falava com meus pais, minha família, e eu com a dele... apesar de quase 1 decada e meia mais velho que eu... parecia-me que também tinha problemas ao tomar decisões... pois em 3 anos eu nunca fui à cidade dele, e nem ele veio a minha... e no fim, casou-se do nada e de repente e sumiu.
Compadecida de minha má sorte, uma amiga apresentou-me um amigo dela... A1, este foi especial. Eu tentava negar, mas A1 foi tudo algo bonito e concreto que vivi, porque VIVI ainda que por pouco tempo... sem muitos detalhes, pois a troca foi em julgo desigual e me senti, no fundo, bem injustiçada na época, hoje já entendo e não ligo... foi melhor, não tinha nada a ver... possibilidades estatisticas ZERO...
Mas...
Um dia, quando percorria as areas do tempo da minha existencia... sem muita direção ou sentido, hiperfocada na solidão da companhia inanimada e fria de muitos livros e do computador... recebi uma mensagem engraçada em umas das redes sociais futeis que mantinha... diferente de outras mensagens que mandavam por se enganarem com as fotos, esta mensagem mostrava que este havia lido o que escrevi e não apenas visto o rosto photoshopado das fotos, não viu apenas a figura longe de demonstrar a alma verdadeira de quem estava na foto.
Volta e meia mais mensaginhas, trechos da vida dele, trechos da minha, contados rapidamente em poucas linhas, de forma rapida e descontraida...nem imaginava que meu gosto pelo sono intrigaria alguém, mas intrigou... um dia como todos os outros, exclui aquela rede cheia de assédios, nao lembrava se havia deixado algo que pudesse manter contato com aquele moço inteligente e legal que só tinha fotos de praia[sem ele] e uma única com um enorme oculos escuro espelhado que me impedia de guardar-lhe as feições... mesmo assim, exclui o perfil. Pensava que num mundo de 8 bilhoes de pessoas, o massivo assédio da rede, multidões com boas e ruins intenções se chocando em contatos dia e noite, provavelmente eu logo seria esquecida.
Passaram-se uns dias, não nego que sentia falta daquelas conversas rapidas, daquela companhia serena... achei melhor deixar de lado... não pensar.
Não sei precisar quandos dias se passaram, quandos livros li, quantas vezes repeti a rotina taciturna e quase funesta de minha vida... Lembro que abri uma das redes que já quase não entrava, por nenhum motivo plausivel... apenas entrei. Meus olhos saltaram com aquele convite! Rápido e objetivo: -''é vc a moça da especialidade dormir? Se for me adicione, se não, peço que desconsidere o convite'' - Mesmo se eu não fosse esta moça eu desejaria ser depois disso...
A foto de perfil de ambos era a mesma, e acho que isso ajudou um pouco, mas ele deve ter penado para me encontrar pois na identificação de minha cidade eu havia colocado ''neverland-nerdland''... realmente, era para dificultar a vida de qualquer um... enfim, surpresa e quase estupefata, adicionei.
As mensagens trocadas eram esporadicas, desencontradas, os horarios nunca batiam... mas o que ele escrevia continuava ser tão sereno e profundo quanto antes, cheio de respeitabilidade, indubitavelmente cavalheiro cortez e honrado.
Um dia, confiei e enviei meu numero de celular para que me avisasse quando estivesse online. Pensei muito em como isso poderia repercutir, mas o fiz....Em pouco tempo o vibrar do aparelho de celular me chamou atenção: ele estava on! Não sabia se entrava, se não entrava, se ficava off... AHH, não sabia! Mas acabei entrando.
A conversa começou tímida, mas muito descontraída, alegre e com muito respeito. Imagino que ele nem sonhe que desde este dia já comecei a pensar nele de forma ‘’diferente’’.
É engraçado, nem percebemos quando uma pessoa começa ficar importante em nossas vidas, e as vezes, nem demora muito, em uma simples conversa, ela se torna parte de vc.
Passei a utilizar mais o msn e a outra rede social que tínhamos em comum, e sempre procurava o destaque do nome dele.
Não imagino que isso tenha ocorrido com ele também, não posso dizer, mas sei que a cada conversa crescia aqui dentro curiosidade, admiração, respeito... e medo, muito medo. Não falo do medo comum de segurança publica e a possibilidade de estar lidando com um sócio ou psicopata... meu medo, francamente, era dos meus sentimentos por ele. Sempre fui uma bobona romântica shakespeariana... já havia idealizado outro alguém de maneira semelhante e me machucado muito, além de meu curriculum amoroso ser parte de uma peça tragi-comica!
Mas continuei levando as serenas conversas que me faziam sentir, metaforicamente falando, como que ‘’navegando em aguas tranquilas”... eram momentos especiais.
Numa das conversas, disse-me que eu havia ‘’mexido’’ com ele – nem tinha ideia do que havia feito comigo então! Se ele estava ‘’mexido’’, não sei descrever como eu estava.
Tive o privilégio de ouvir aquela voz tão linda, apesar de estranhar bastante o sotaque. Imagino que a reação dele ao cuiabanês deve ter sido a mesma! Hehehehe
Após isso, ainda tivemos um pequeno momento de divergência por questões semânticas, de regionalismo mesmo! [Isso aconteceu algumas vezes, mas creio que já alinhamos bem isso hoje]
Por esta divergência, temi que pudesse perder a amizade dele, desesperava-me a cada mensagem em que eu não o entendia e que aparentemente, ele também não me entendia! Cheguei mandar um email enfático e grosseiro a ele, que sempre me respondia tão educada quanto confusamente. Não sabia qual de nós estava errado, doido... sei lá... até que, lá pela vigésima mensagem de texto, entendemo-nos enfim! A mesma palavra tinha significados diferentes em nossos diferentes contextos culturais.
Ufa! Tudo alinhado!
Passam-se dias e tempos [um espaço pequeno], e mais e mais meus sentimentos cresciam por ele, a cada troca de email, sms... ele não faz ideia, eu acho, que me apaixonei por ele, bem antes que ele me dissesse algo.
Começamos a conhecer a vida um do outro, a essência, os problemas, os descaminhos... neste turbilhão de movimentos que é a vida dele, apenas um [poderoso detalhe] existe a ser resolvido. Para mim, não existem 2.000 km de distancia, um clima frio bem diferente do meu, nada disso... Para mim, existe ele, e o que a ele é importante.
Conheci a personalidade intempestiva, temperamental e as vezes impulsiva dele, a tendência altruísta e sacrificial, as virtudes, a inteligência abrangente que domina quase todas as inteligências descritas por Gardner, a virtude de ser companheiro, amigo capaz de ser presente na distancia e nas condições adversas [inteligencia nerd, tudo que sempre quisssss!!!!! God!!!!!!!]
Ouvi numa palestra na UFMT, com um DR em psicologia e filosofia da Suécia, que não existe, afirmava ele, não existe possibilidade de um relacionamento dar certo quando o casal não se dispõe a ouvir, compartilhar mutuamente os sonhos um do outro. Justificando isso, o Dr disse, que os sonhos, perspectivas e expectativas fazem parte do ser, da constituição de si, nega-los é negar-se, e persistir em viver sem estas essências tão profundas é viver um relacionamento morto, uma vida doente, uma vida vegetativa e niilista; talvez por isso penso que teria grande possibilidade de dar certo, pois existe o compartilhamento disso, e o prazer nesta partilha.
Meus sentimentos por ele são fortes, tanto, que jamais havia sentido, ele pode não crer, mas é a verdade. Ele é o primeiro e ultimo pensamento, e também o único do dia [hipérbole variável].
Em meu coraçãozinho sonhador, creio ser possível construir a felicidade ainda, sonho e devaneio talvez... Pensamentos bobos... ideações utópicas, eu sei. Bem sei. Apesar dos problemas de hiperatividade cerebral, diencéfalo, telencefalo em polvorosa... ainda raciocino bem...
Por vezes, tento, colocar-me insistentemente, tento abrir um espacinho para mim... mas sempre percebo uma espécie de ''negação'' veemente, uma limitação que me opõe, qual força invisível, e me lança sempre para fora... mantendo-me ''longe'', me remetendo ''as margens da probabilidade e não da possibilidade''. A certeza da incerteza, como dizia Ponty e Nietzsche.
Refleti nas palavras de Sun Tzu a um rei: -"Apenas gosta muito de palavras, mas não sabe transforma-las em atos.''[A arte da Guerra - Sun Tzu] - A vontade é precursora da ação, ação gerará a reação da mudança, As vezes, esta ação/reação chamada mudança é tudo o que queremos e precisamos. Mas também, é o que mais tememos pois nos leva a horizontes onde a unica certeza é a incerteza de tudo [Peron e MFS - trechos ''a vida adoecida sem doença''], e percebi que isso é fato, envolve muito a vidas das pessoas, inclusive a minha no contexto desta existencia indizivel...
Espero, de verdade, que do insólito que nao deu certo, esta comédia continue insólita... mas que todavia, dê certo... possa mostrar a real capacidade de ser e fazer feliz nesta estranha comedia de vida que é a minha...
caso contrario...
Dessa vez, eu jogarei os computadores fora, e vou para selva amazônica viver como eremita do século XXI...